Fernanda Liberali
O papel das escolas é imprescindível na construção de espaços desafiadores para que os alunos possam exercer todo o seu potencial de criação e de ampliação dos saberes.
Nesse processo, a argumentação tem um papel central: é a base para o processo de ensino/ aprendizagem e para a participação dos alunos futuramente na sociedade;
Algumas questões importantes sobre os argumentos serem tratadas no decorrer do texto:
– Por quê?
– Como?
– Para quê?
Por que argumentar?
Em que mundo nós vivemos? Quais são as temáticas importantes e que requerem reflexão e, portanto, demandas para argumentação?
De que forma se dão as argumentações sobre cada tema hoje em dia? De forma violenta ou por meio da exposição de pontos de vista?
A maneira como as argumentações se dão – normalmente violentas – refletem a forma como nos relacionamos com a realidade, assim como as influências que os tipos de argumentação têm entre os estudantes educados para atuarem nesta realidade. As consequências envolvem:
- Estudantes “depositários”: recebem o conteúdo pronto, sem filtros, e há uma alta expectativa de reprodução dos saberes;
- Pouquíssima individualidade no ensino e exclusão: aqueles que não se enquadram no sistema educacional de “reprodução” não merecem um lugar digno na sociedade;
- Sujeitos de reprodução: estudantes que são formados para silenciar em vez de argumentar, para serem competitivos, fragmentados e encapsulados. Sujeitos “programados” para serem espectadores, seguidores, para buscarem a segurança em vez de ousarem;
A pressão do aprendizado tem que ser revista. Estudantes adoecem com a competitividade e com as expectativas alheias que tentam igualar sujeitos diversos em suas competências e necessidades.
Estamos formando indivíduos que se sentem malabaristas: têm que dar conta de uma série de coisas, nos mais diversos âmbitos da vida, e estão sempre atendendo a demandas. Não são autores/ criadores/ protagonistas e se sentem perdidos de si mesmos sem saber como construir (ou redescobrir) seu modo de ser e de pensar.
Para esse tipo de sujeito usa-se os termos:
- Sujeito da adaptação: tentativa de dar conta de tudo. Fica à mercê das demandas. Tem que se adaptar à realidade posta para ele;
- Agente de transformação: aquele que se faz sozinho, que se liberta, que tem o poder de se desencapsular, que lida bem com a realidade da vida. Que sente que tem um caminho a seguir, um norte. São pessoas que estão sempre refletindo sobre qual a melhor direção naquele momento, e que buscam condições equânimes, sem medos de mudanças;
Os tipos de sujeito, indubitavelmente, definem os tipos de argumentação. Vale destacar, que diferir-se do outro pelo poder da argumentação racional e colaborativa pode ser ao mesmo tempo um objetivo e um desafio.
A ideia de todos serem protagonistas é real e possível. Trata-se de reconhecer a potência que todos têm de agir e de fazer acontecer. Afinal, quando as potências individuais são trabalhadas em conjunto, o poder da ação se amplifica.
Sendo assim, a argumentação usada como instrumento colaborativo garante a união das potências e muito mais chance de descoberta e, então, da realização de um objetivo em comum.
Como argumentar?
Pensar e ponderar sempre: estou argumentando para oprimir ou para colaborar?
Linguística opressiva
- O discurso é normalmente um monólogo e o opressor enxerga o outro como antagonista. Não há lugar para a escuta;
- Criam-se choques semânticos e ideológicos. O tom é de julgamento, e a pessoa se posiciona como “dona da verdade”;
- Não há compromisso em apresentar evidências, provas ou explicações sobre os argumentos;
- Desconexão e impertinência no discurso;
- Desqualificação do interlocutor;
- Movimento corporal intimidador, postura e expressão facial violentas e tom de desprezo e deboche na fala.
Linguística colaborativa
- As diferenças criam conexões, expandem possibilidades;
- A importância de abrir espaço para que as pessoas possam expor suas ideias livremente;
- Exame crítico de diversas opiniões;
- Os conteúdos aprendidos são utilizados para a busca de soluções, levando em consideração as diferentes propostas apresentadas;
- Construções com base nos inúmeros saberes, entrelaçando ideias e fazendo considerações a partir das mais diversas visões de mundo;
- Há pertinência no conteúdo, pois os argumentos são baseados em fatos, conceitos, exemplos;
- O uso do pronome “nós” (e não do “eu”) mostra a integração e o envolvimento de todos os participantes;
- Referência à fala de outros interlocutores, permeabilidade e complementação de ideias;
- Escuta atenta e ativa;
- Olhar vetorizado aos diferentes interlocutores;
- Expressão corporal de incentivo
Essa movimentação possibilita uma argumentação colaborativa, que dá lugar para a participação de diferentes vozes, que cria um espaço seguro para a apresentação e debates de ideias. Há um compromisso em buscar soluções conjuntas, que agreguem noções comuns. Há composições de novas possibilidades que foram construídas a partir do compartilhamento de opiniões e, por fim, uma deliberação coletiva.
Para que argumentar?
Multiculturalismos opressivos
- Multiculturalismo Assimilacionista: a diferença não é aceita, ela é assimilada. “O outro deve pensar como eu penso”;
- Multiculturalismo Diferencialista: cada um fica na sua posição, com medo de se posicionar e de não ser aceito pelo grupo;
- Multiculturalismos colaborativos;
- Multiculturalismo Aberto e Interativo: um se constrói na fala do outro, um se constitui com o pensamento do outro e, assim, se expande na relação colaborativa, em que a argumentação nos leva para além do que a gente já é, para a construção de novas soluções.
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